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Há muito que se conhcer em Eldorado - SP

Mesmo com uma estrutura turística que deixa a desejar, Eldorado me surpreendeu positivamente, tanto pela relação custo/benefício, quanto pela diversidade de atrativos, sendo que muitos deles ainda são pouco conhecidos ou divulgados.


Considerado o quarto maior município paulista com mais de 70% da sua área coberta de Mata Atlântica intacta, Eldorado foi apelidado de “Amazônia Paulista” pelo naturalista botânico e geólogo Manoel Pio Correa, em uma visita científica por volta de 1920. Localizado ao sul do Estado de São Paulo, no Vale do Ribeira, a 246 km da capital, o município é famoso por sua grande concentração de cavernas e a mais conhecida é a Caverna do Diabo ou Gruta da Tapagem, inserida no Parque Estadual Jacupiranga. Este lugar, que ainda não tem um turismo forte e consolidado, vai além desta principal atração: trilhas cachoeiras, comunidades quilombolas, atividades de ecoturismo e a prática de esportes radicais também fazem parte deste local.

História do Município


Com o nome antigo Xiririca, palavra indígena que significa "águas correntes”, Eldorado foi fundado em 10 de março de 1757, e participou do primeiro ciclo do ouro do país. Por mais de um século fez parte do itinerário de grandes barcos a vapor que navegaram pelo Vale do Ribeira, partindo de Iguape, levando e trazendo mercadorias.


Sua população é composta, em grande parte, por descendentes de escravos, a maioria morando nos bairros rurais. Eles têm sua história, origem e cultura preservada nas comunidades quilombolas, como o Quilombo de Ivaporunduva, um dos mais visitados da região.


Atualmente a economia gira em torno do turismo e da bananicultura, os produtos derivados da banana são tradição do local. Eldorado, assim como todo o Vale do Ribeira, foi reconhecido pela UNESCO, em 1993, como Patrimônio Mundial da Humanidade. Viveu seu auge de fartura e riqueza no século XIX, devido à exploração de ouro, mas hoje sustenta a triste realidade de ser uma das regiões mais pobres do Brasil.


Centro de Eldorado

Centro de Eldorado

Planejamento e início da viagem

Antes de sair de São Paulo para explorar este destino, pesquisei e planejei meu roteiro, o que fazer, onde ficar, quanto gastar, etc. Como não tenho carro e com o objetivo de conter gastos, embarquei nessa viagem de ônibus, mesmo sabendo das dificuldades que enfrentaria para me locomover. Ciente desse pequeno obstáculo e que não é permitido fazer os passeios sem o auxilio de um guia, fechei com a Pousada Arapassu por me oferecer tudo aquilo que eu procurava, translado, contato com a natureza, aventura, atividade de ecoturismo, guias qualificados e hospedagem com utensílios para que eu pudesse fazer a minha própria comida, assim economizaria na alimentação.


Ao chegar em Eldorado, fiquei aguardando o serviço de traslado para a pousada na praça central da cidade, onde está localizada a Igreja Nossa Senhora da Guia, a padroeira da cidade. Enquanto esse transporte não vinha, fui conhecer o centro da cidade, que conta com uma estrutura razoável para atender as necessidades da população e dos turistas. Lá existem bares, restaurantes, padarias, farmácias, supermercados, postos de gasolina e duas agências bancárias, Santander e Bradesco. Se não for cliente dessas duas agências é melhor levar uma grana extra para não passar perrengue.


Depois de um breve passeio, chegou o carro para me transportar até pousada. Quem veio me receber foi o simpático Gabriel Hallai. Ele é o próprio dono da pousada e foi o meu guia durante as atividades de ecoturismo e na visitação à Caverna do Diabo. Foi um privilégio ter conhecido o Gabriel, uma pessoa que passou um conhecimento enorme da região e da sua profissão, mostrando o lado positivo de largar tudo e fazer o que gosta.


Depois de um dia cansativo, cheguei na pousada me sentindo exausto e com fome. Ela tem um estilo rústico, muito aconchegante, além de um ótimo atendimento. Então, fui fazer minha comida, me desligar de tudo e aproveitar toda a energia, paz e silêncio do local. Precisava descansar para o dia seguinte que prometia ser de muita atividade.


Pousada Arapassu


Caverna do Diabo

No dia seguinte fui visitar a Gruta da Tapagem, também conhecida como Caverna do Diabo. O nome pode ser estranho e pode dar medo, mas para muitos, a Caverna do Diabo é a oitava maravilha do mundo. Este mundo subterrâneo lembra igrejas em estilo barroco.


A Caverna do Diabo é cercada de mistérios. Há uma infinidade de lendas sobre os salões dessa imensa gruta. Na época da escravidão, a caverna era usada como esconderijo para os escravos que fugiam do Capitão do Mato (homem encarregado de captura-los e leva-los ao capataz). Os escravos, por sua vez, ouviam gemidos na entrada da caverna e diziam que esses sons eram gemidos de espíritos castigados pelo demônio. A lenda ganhou força quando encontraram um rosto esculpido nas rochas que supostamente seria do diabo, então surgiu o nome que até hoje causa espanto a esse lugar.


O atrativo fica no Parque Estadual Caverna de Jacupiranga, que foi criado em 1969 e é a segunda maior Unidade de Conservação do estado, com uma área de aproximadamente de 150.000 hectares. O local abrange grandes extensões de Mata Atlântica e outros ecossistemas. Além disso, existe no parque um grande número de espécies animais e vegetais, muitas desconhecidas ou pouco estudadas pela ciência, considerando que boa parte delas estão ameaçadas de extinção.

A Caverna do Diabo consiste na maior caverna do estado de São Paulo. Foi descoberta oficialmente pelo pesquisador alemão Richard Krone em 1891. Atualmente, já foram explorados 6.500 metros desta caverna, sendo que somente 700 metros são permitidos para visitação. Este trecho aberto à visitação tem iluminação artificial, escadas, passarelas e pontes bem construídas, facilitando o acesso aos visitantes, ao mesmo tempo, respeitando as estruturas da caverna e seguindo o relevo natural sem gerar impacto visual.


Ao entrar nesse mundo subterrâneo, o visitante pode soltar a imaginação, pois é possível enxergar milhares de formas que se assemelham a um rinoceronte ou a cabeça de um ema, por exemplo.


Momentos antes de entrar na Caverna do Diabo, o guia Gabriel deu uma aula sobre a geografia do lugar, incluindo a formação das cavernas da região. Veja o vídeo abaixo.





Mirante da Caverna do Diabo O próximo passo foi explorar a trilha do Mirante da Caverna do Diabo. Seu nível de dificuldade é médio, por isso não encontrei muitos obstáculos durante o percurso que durou aproximadamente 1 hora e 30 minutos, chegando a uma altura de 700 metros no final. O visual do topo é incrível, consegui tirar belas fotos. Lá de cima é possível avistar grande parte do relevo que caracteriza o Vale do Ribeira em meio a um nevoeiro típico do lugar.


Cachoeira do Meu Deus

Depois de visitar a Caverna do Diabo e encarar a trilha do Mirante da Caverna do Diabo, enfrentei o maior desafio: percorrer a trilha que leva a Cachoeira do Meu Deus, localizada às margens do Rio Ribeira. A cachoeira é considera uma das mais bonitas do estado de São Paulo, com uma queda de 53 metros. Sua origem está numa nascente em área fechada que atravessa 4 km do interior da Caverna do Diabo.


Para fazer essa trilha é importante levar mochila pequena e forte, lanterna, tênis antiaderente (para evitar bolhas), chapéu ou boné, repelente, filtro solar, maiô, sunga ou bermuda tactel. Caminhar de jeans não é legal. Se você toma algum medicamento de uso regular, leve-o consigo na viagem.


Existem dois caminhos que levam a cachoeira. Um deles é mais curto, apenas uma caminhada de dificuldade média, que dura aproximadamente 1 hora. Eu escolhi o caminho mais longo e mais difícil, porém o mais bonito, onde o tempo previsto é de 5 horas em um percurso de 5,6 km (ida e volta). Esta trilha percorre diversos trechos de Mata Atlântica preservada, além de possibilitar o encontro com algumas espécies exóticas.


Com 30 minutos de caminhada começaram as dificuldades, o tempo fechou e o guia nos alertou do perigo de uma tempestade em uma trilha fechada. Resolvemos avançar, porém as dificuldades aumentaram, o solo ficou encharcado e escorregadio. Mesmo com bota, os tombos foram inevitáveis, mas nada grave. Para aumentar a dificuldade, esqueci os lanches que tinha feito no carro do guia, então só me restou umas barrinhas de cereais.


Segui em frente, depois de um tempo você se acostuma com as dificuldades. Cruzei 44 vezes o Rio das Ostras, passei por belas piscinas naturais e mais de 11 cachoeiras, e debaixo de muita chuva cheguei finalmente a Cachoeira do Meu Deus. A beleza do atrativo causa um verdadeiro espanto e isso explica o significado deste nome: “Meu Deus” (interjeição).


A chuva e todas outros obstáculos enfrentados tornam o momento ainda mais especial. Ter seguido em frente possibilitou uma bela recompensa, pois a cachoeira é realmente impressionante.

Chegando ao final

Tive a oportunidade de percorrer a trilha da Caverna do Diabo, a trilha da Cachoeira do Meu Deus e a Caverna do Diabo, além de curtir uma moda de viola na festa da padroeira da cidade. Devido ao mau tempo, não consegui conhecer todos os atrativos que planejei: Mirante do Cruzeiro, Trilha Lamarca, Parque Salto da Usina, a Cachoeira do Sapatu e o Quilombo de Ivaporunduva.


Eldorado é um lugar incrível, com muito potencial para ter um turismo bem desenvolvido, mas isso ainda não aconteceu. Senti falta de uma estrutura melhor para o visitante, como mais bancos, restaurantes e hotéis. O local também carece de sinalizações e meios de transporte que possibilitem o deslocamento do turista. Se alguém chegar sem conhecer nada do lugar, ou sem um guia, é bem possível que fique perdido. Além disso, de uma maneira geral, a população do município tem pouco conhecimento sobre as potencialidades do lugar, o que dificulta a divulgação de Eldorado e a inserção desta mesma população na atividade turística .


Queria ficar um pouco mais em Eldorado, mas infelizmente não foi possível. Pretendo voltar para conhecer os outros atrativos do lugar.


Custo da viagem (por pessoa):


- Metrô + ônibus rodoviário = R$ 63,54.

- Hospedagem (R$ 80,00 x 3 diárias) = R$ 240,00.

- Trilha do Mirante da Caverna Do Diabo: Traslado (Pousada/Caverna do Diabo + Mirante Caverna do Diabo) = R$ 90,00 + R$ 15,00 = R$ 105,00.

- Cachoeira do Meu Deus: Vale das ostras: R$ 50,00 (por pessoa) + traslado: R$ 75,00 = R$ 150,00. Obs: o valor do translado é para até 3 pessoas.

Total = R$ 558,54


Como chegar:


- São Paulo / Eldorado de ônibus: Terminal Barra Funda – Empresa Intersul.

- De Carro: Para quem sai da cidade de São Paulo, o acesso de carro é pela rodovia Régis Bittencourt BR-116, chegando na cidade de Jacupiranga, acesse para a rodovia SP-193, o tempo de viagem aproximado é de 4 horas.

- Saindo do litoral de São Paulo, a vigem dura aproximadamente 5 horas, o acesso é pela Eco Via Imigrantes.

- Para quem sai do Interior o acesso é pela rodovia Castelo Branco SP- 280, o tempo da viagem é de aproximadamente 6 horas.


Onde ficar (melhores sugestões):




Mais informações no site da prefeitura de Eldorado: www.eldorado.sp.gov.br


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ALEX FREITAS


Criador, produtor de conteúdo e administrador do portal Mochilão Pé na Estrada. Um viajante nato, amante da fotografia, está sempre em busca do desconhecido e de um contato mais próximo com a cultura de cada lugar.




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